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Você tem certeza que o Profissional de Enfermagem pode atuar em cirurgias, na ausência do cirurgião auxiliar?

O Centro Cirúrgico (CC) é uma unidade hospitalar onde são executados procedimentos anestésico-cirúrgicos, diagnósticos e terapêuticos, tanto em caráter eletivo quanto emergencial. 

O Centro Cirúrgico (CC) é uma unidade hospitalar onde são executados procedimentos anestésico-cirúrgicos, diagnósticos e terapêuticos, tanto em caráter eletivo quanto emergencial.


Esse ambiente, marcadamente de intervenções invasivas e de recursos materiais com alta precisão e eficácia, requer profissionais habilitados para atender diferentes necessidades do usuário diante da elevada densidade tecnológica e à variedade de situações que lhe conferem uma dinâmica peculiar de assistência em saúde. 

O CC é considerado como cenário de alto risco, onde os processos de trabalho constituem-se em práticas complexas, interdisciplinares, com forte dependência da atuação individual e da equipe em condições ambientais dominadas por pressão e estresse. Contudo, você pode se perguntar:

O Profissional de Enfermagem pode atuar em cirurgias, na ausência do cirurgião auxiliar?

A Resolução Cofen 280/2003 fala sobre a proibição dos profissional de enfermagem em auxiliar procedimentos cirúrgicos. 

O artigo 1° e o parágrafo único da referida Resolução asseveram que é vedado a qualquer profissional de Enfermagem a função de Auxiliar em Cirurgia. Somente poderá haver exceção em situações de urgência, na qual haja iminente risco de vida, não podendo tal exceção aplicar-se a situações previsíveis e rotineiras.

Portanto, é vedado ao profissional de enfermagem auxiliar procedimentos cirúrgicos em substituição ao cirurgião auxiliar.


Qual a função do Profissional de Enfermagem no Centro Cirúrgico?

As funções da enfermagem abrangem a recepção do paciente no centro cirúrgico, organização da sala de cirurgia, atendimento às necessidades de saúde e segurança do paciente durante e após a cirurgia, encaminhamento do operado para a Sala de Recuperação Pós-Anestésica, UTI ou enfermaria.

Para poder recebê-lo de forma adequada, a enfermagem dessas unidades prepara com antecedência a unidade operatória; esse preparo varia de hospital para hospital, de cirurgia para cirurgia, mas basicamente consiste em:

  • montar cama de operado;
  • esvaziar jarro de água;
  • colocar ao lado do leito o suporte de soro;
  • deixar na mesinha de cabeceira: 2 a 3 pacotes de gaze, aparelho de PA e estetoscópio (pode-se colocar 1 cuba-rim, 1 seringa de 20 cc, extensão de sonda, coletores, ataduras de crepe, material de aspiração etc.);
  • testar fluxômetro do oxigênio

Quais as principais dificuldades encontradas pela enfermagem no Centro Cirúrgico?


1. Dificuldades vinculadas ao relacionamento interpessoal e a comunicação entre os profissionais

As dificuldades enfrentadas por eles dizem respeito ao relacionamento com cirurgiões, anestesistas, técnicos e auxiliares de enfermagem que atuam no centro cirúrgico.

Quem nunca ouviu aquele profissional dizendo: "Tem cirurgiões mais estressados que interferem na rotina do grupo, às vezes nem tem motivos para fazer assim, transformando num banzé, às vezes acaba acontecendo. O cirurgião está estressado e é naturalmente estressado, pega um circulante de sala que não tem paciência, aí o enfermeiro também já está incomodado, junta tudo isto, aí estoura."

O enfermeiro que atua em centro cirúrgico se relaciona com profissionais heterogêneos e este pode ser um dos fatores geradores de conflitos, divergências, insatisfações, evoluindo para o estresse. 

Ele necessita interagir continuamente para que o trabalho possa ser realizado de forma eficiente e eficaz. O profissional da área da saúde tem como base do seu trabalho as relações humanas, sejam elas com o paciente ou com a equipe multidisciplinar.

O enfermeiro coordenador de um centro cirúrgico necessita estar atento às características individuais dos diferentes profissionais que atuam na unidade, buscando conhecer como cada um age e reage frente às situações, para melhor conduzir sua equipe, bem como sua relação com a equipe médica. 

A partir do momento em que ele age desta forma, terá maiores subsídios para administrar situações conflitantes que se apresentarem, reduzindo desentendimentos, discussões e, principalmente, ampliando a satisfação dos profissionais, com repercussões positivas na assistência ao paciente.

 Ao enfrentar situações conflituosas, o enfermeiro deve minimizá-las, dialogar de forma participativa. Sendo assim, provavelmente o conflito resultará em criatividade, inovação e crescimento para a unidade.

Ressaltando-se que o conflito pode ser tanto destrutivo quanto construtivo e que depende da maneira como é conduzido.


2. Deficiência e falta de materiais, de equipamentos e de pessoal, como geradores de dificuldades

A complexidade do centro cirúrgico exige do enfermeiro a provisão e o gerenciamento de materiais e equipamentos, indispensáveis à realização de procedimentos anestésico–cirúrgicos.

A organização, o suprimento e a manutenção de materiais em um centro cirúrgico são muito importantes, sendo estes alguns dos principais problemas apontados pela enfermagem no dia–a–dia no centro cirúrgico. 

Muitos são os profissionais de enfermagem que dizem: 

  • a falta de material é uma coisa que me deixa bem preocupada, para o médico poder assistir o paciente dele; 
  • as questões dos materiais, está tudo programado, de repente vem alguém, diz que está suspensa a cirurgia porque faltou tal coisa, porque não falou antes?


Isso mostra a inter–relação da comunicação entre os responsáveis, por exemplo, setor de compras, farmácia, almoxarifado e a falta de sintonia entre os sujeitos, podendo repercutir na assistência ao paciente. 

Além disso, observamos que a deficiência de materiais interfere na assistência ao paciente e se constitui em uma preocupação do enfermeiro que gerencia a referida unidade.  

A precariedade e a falta de materiais e equipamentos no centro cirúrgico é uma constante no cotidiano do enfermeiro, variando desde os mais simples até os mais complexos, como próteses e órteses. Essa situação gera insatisfação à equipe e a culpa passa a ser do enfermeiro. 

Alguns depoimentos ilustram esta dificuldade: 

  • [...] recursos materiais, falta coxins especiais, mesas especiais ou reforma de mesas, material que poderia ser comprado e não tem para cirurgias [...]; 
  • normalmente não são instrumentais que faltam, mas são próteses, órteses... que gera um descontentamento muito grande [...]; 
  • e [...] com materiais de órtese também sempre há faltas e a culpa sempre cai em cima do enfermeiro, que não viu [...].


Diante da falta de um material consignado, por exemplo, o cirurgião deve ser comunicado pelo enfermeiro da unidade antes do início do procedimento cirúrgico, evitando, dessa forma, conflitos e repercussões na assistência ao paciente. 

Este aspecto se torna mais grave, pois a deficiência de material no centro cirúrgico leva o enfermeiro a empreender mais tempo procurando soluções para uso de equipamentos sem manutenção, realizando controle excessivo de materiais, até mesmo sofrendo desgaste e sobrecarga de trabalho administrativo.

Um dos fatores geradores de estresse à enfermagem que atua em centro cirúrgico é a relação com o setor de manutenção. Ela considera importante a realização de manutenção preventiva nos equipamentos.

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A atuação do enfermeiro deve estar em sintonia com a direção e administração do hospital, visando o suprimento e manutenção de materiais e equipamentos indispensáveis à realização de diferentes procedimentos cirúrgicos, sem prejuízo ao paciente. 

Muito tem se escrito sobre o planejamento da assistência de enfermagem no perioperatório, mas, na prática, muitas vezes o paciente é encaminhado ao centro cirúrgico sem ter recebido os esclarecimentos de suas dúvidas ou com apenas parte delas esclarecidas. 

É possível afirmar que muitos enfermeiros de centro cirúrgico correm o risco se afastar do cuidado direto ao paciente, priorizando o provimento de materiais e equipamentos para a referida unidade. 

Considera-se que ambos os aspectos, tanto administrativos quanto assistenciais, são importantes para uma assistência integral ao paciente em centro cirúrgico.


Fonte: 
1. Ouvidoria Cofen
2. KAWAMOTO, Emília Emi. Enfermagem e clínica cirúrgica. Ed. rev. e ampl. São Paul: EPU, 1999.
3. Martins FZ, Dall’Agnol CM. Centro cirúrgico: desafios e estratégias do enfermeiro nas atividades gerenciais. Rev Gaúcha Enferm. 2016 dez;37(4):e56945. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1983- 1447.2016.04.56945.
4. Stumm EMF, Maçalai RT, Kirchner RM. DIFICULDADES ENFRENTADAS POR ENFERMEIROS EM UM CENTRO CIRÚRGICO. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2006 Jul-Set; 15(3): 464-71.

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